domingo, 20 de novembro de 2011

A besta zurrou...

Aterrorizada com tamanha injustiça, a besta zurrou. Ergueu as orelhas, livrou-se das talas “demagogas” que o energúmeno lhe pôs nos olhos, deixou-se levar pelos seus instintos e, num relinchar insurgente de inquietude, bateu os cascos. Enfrentou o energúmeno e vincou os seus princípios pessoais e institucionais, defendeu os valores que felizmente os seus progenitores lhe transmitiram e pelos quais se rege, expôs a indignação que reinava ali, naquele mundinho inadmissivelmente mundano, propôs alternativas com vista à mudança, mostrou que preserva o seu direito ao livre-arbítrio e zarpou. Para não mais voltar!

O energúmeno, que tem a capacidade de nunca surpreender, ao ver que não conseguia amainar esta besta nem voltar a pôr-lhe as talas, espécie de “marca a ferro quente” dos que vivem no seu rancho, retira-lhe a ração.
A besta – que é verdadeiramente besta -, procura conforto junto dos burros de carga do rancho do energúmeno. São muitas as festas no pêlo simuladas, os sorrisos amarelados, os conselhos de olhar cabisbaixo... Estava traçado o seu quinhão, mas a besta, que é besta, não percebeu. Como se não bastasse ser besta de nome, a besta foi, mais uma vez, besta nos actos... Voltou ao rancho do energúmeno, àquele mundinho inadmissivelmente mundano, e ensinou todos os burros de carga a funcionar com os arados e com todos os utensílios para que a lavoura não parasse.
Na hora da verdade, em que foi necessário bater os cascos, foi vê-los escapulir-se, a encontrar formas de sobressaírem perante o energúmeno, aproveitando a infelicidade da besta completamente exaurida por um inconformismo nato face às injustiças, que teima em não a largar.
A besta, perante a inexorabilidade do energúmeno, dominado pela ganância de poder, e a cegueira dos burros de carga, que correm como baratas tontas atrás da cenoura que nunca alcançarão, deixando imiscuir-se, opta por se resignar ao silêncio... Em silêncio, os gritos emudecidos da besta ecoarão – neste blogue - sob a forma de fábulas.

Sem comentários:

Enviar um comentário